terça-feira, 29 de maio de 2012

Algo de novo no reino das Universidades Federais?








Marcelo Badaró Mattos - UFF


São muitas vezes surpreendentes os caminhos que levam a movimentos coletivos como as greves. Quem poderia prever que depois de sete anos sem qualquer greve nacional unificada as Instituições Federais de Ensino Superior viveriam uma nova greve nacional e com tanta força que recebeu em poucos dias a adesão dos(as) docentes de 44 instituições, incluindo praticamente todas as que foram criada nesses últimos anos e a maior parte das grandes federais mais antigas, como a UFRJ, UFF, UNIRIO e UFRRJ (para ficar no exemplo das do Rio de Janeiro)? Quem poderia dizer que nas novas instituições e nos novos campi das antigas, fruto do tão propagandeado processo de expansão formatado pelas regras do REUNI*, surgiriam os setores docentes e discentes mais mobilizados para esse enfrentamento? Como imaginar que até naquelas instituições em que surgiu e implantou-se uma representação docente de caráter oficialista – o PROIFES –, cujo objetivo evidente é conter as lutas da categoria, fossem ressurgir movimentos autônomos das(os) docentes, convocando assembleias, contrariando direções pelegas e construindo também lá a mobilização (e ao que parece em breve a greve)? Quem apostaria que nas Instituições Federais de Ensino Superior, que por certo forneceram muitos votos ao atual governo federal na expectativa de manutenção da política de expansão e dos reajustes salariais anuais, tão forte e resoluta fosse a adesão a um movimento acusado pelo governo e os governistas de ser fruto de uma mera manipulação política de setores oposicionistas?

A dinâmica dos conflitos sociais nos reserva surpresas, mas não nos dispensa de compreendê-las. Porque uma greve tão forte emergiu nestes últimos dias?

Para entendê-lo é necessário reconhecer que a pauta do movimento, curta e direta, representa de fato uma forte insatisfação. A pauta: uma reestruturação da carreira docente e a melhoria das condições de trabalho. Sobre a carreira, a questão é simples: após 25 anos de aprovação do Plano Único que passou a reger a carreira docente, em 1987, sucessivas políticas salariais para a Universidade depreciaram e desestruturaram a carreira. O que se reivindica é, basicamente, uma única linha de vencimento nos contracheques (com a incorporação das gratificações e o entendimento do percentual de titulação como parte do vencimento), com 13 níveis, steps (percentuais entre os níveis) de 5%, acesso interno à carreira ao nível de Professor Titular, com paridade entre ativos e aposentados e isonomia entre professores(as) da carreira do magistério superior e da carreira de ensino básico, técnico e tecnológico. O piso para professor 20h no início da carreira seria de R$ 2.329,35 (um salário mínimo do DIEESE, calculado com base nas necessidades mínimas de um trabalhador e sua família, conforme dita a Constituição).

O governo acena com uma carreira mais desequilibrada em termos salariais, com um piso baixíssimo e promoções atreladas a critérios produtivistas, visando diferenciar um pequeno contingente melhor remunerado (por projetos e pela atuação em pós-graduações) e uma imensa maioria de docentes sobrecarregados com a elevação da carga de trabalho em sala de aulas de graduação. Já quanto às condições de trabalho, cinco anos após o início do REUNI, as instituições federais criaram centenas de novos cursos e ampliaram em dezenas de milhares as suas vagas de ingresso discente. O governo, entretanto, não garantiu até agora nem mesmo o relativamente (à ampliação das matrículas) pequeno número de concursos públicos para docentes com o qual se comprometeu em 2007. As obras de expansão carecem de verbas para sua complementação, gerando ausência de laboratórios, bibliotecas e salas de aula nas novas unidades, assim como superlotação nas antigas. Some-se a isso a enorme deficiência no campo da assistência estudantil, cada vez mais necessária na medida em que entre os novos estudantes tendem ingressar contingentes cada vez maiores de trabalhadores(as) e filhos(as) de trabalhadores(as), sem condições de arcar com os custos de transporte, moradia, alimentação e material didático minimamente necessários para a vida universitária.

A greve pode ter colhido a muitos(as) de surpresa, mas está longe de ser um fenômeno de difícil explicação. Professores e professoras (e estudantes que aderem ao movimento em muitas universidades) optaram por esse instrumento de luta porque estão conscientes de sua necessidade diante da deterioração de sua carreira e das condições de trabalho. E perceberam que ou freiam agora o desmonte, ou serão arrastados ao fundo do poço em poucos anos.

Greve?

Tão logo a greve foi anunciada, surgiram de imediato combatentes antigreve no interior das Universidades. Seus argumentos não são novos para quem já viveu outros processos grevistas. Vale rebatê-los apenas para relembrar aspectos do passado recente das lutas em defesa da Universidade Pública que podem escapar aqueles(as) que a elas se integraram nos últimos anos.

Greves paralisam só as graduações e prejudicam apenas os estudantes de graduação? Tal argumento foi usado principalmente a partir dos anos 2000, quando a pressão das agências financiadoras/avaliadoras sobre as pós-graduações para cumprirem metas produtivistas gerou um núcleo de docentes que assumiu internamente (ou como membros de comitês das agências) o papel de feitores da produtividade coletiva, alardeando o pânico dos prazos e metas ante qualquer rumor de questionamento. As greves tradicionalmente pararam aulas de graduações e pós e podem continuar a fazê-lo. Prejudicam os estudantes?

Momentaneamente prejudicam estudantes, professores e técnico-administrativos que as fazem, é óbvio, mas significam justamente o sacrifício de um calendário regular de atividades (com os prejuízos materiais e pessoais que isso pode representar) em nome de um projeto maior de Universidade Pública. Assim evitamos a cobrança das mensalidades, com a greve de 1982; garantimos os direitos dos professores precariamente contratados ao longo da ditadura, com as greves da primeira metade dos anos 1980; conquistamos a isonomia entre instituições fundacionais e autárquicas e a carreira docente, com a greve de 1987; descongelamos as vagas para concursos docentes, com a greve de 2001; barramos ou derrubamos diversas propostas e práticas desastrosas para o caráter público e a qualidade do trabalho universitário (projeto GERES; propostas de “regulamentação” da autonomia; efeitos da reforma do Estado; carreira de “emprego público”; gratificações produtivistas, quebras de isonomia e paridade e etc.), e preservamos minimamente os salários (que ainda assim perderam muito do seu valor de compra ao longo dos anos). Estivemos longe de fazer greves meramente corporativistas, pois sempre pautamos a garantia da qualidade do trabalho de ensino, pesquisa e extensão nas universidades, o que foi sempre reconhecido pelos(as) estudantes, muitas vezes com greves conjuntas, como a que já ocorre agora em diversas universidades. Seriam os(as) estudantes tolos(as), que apoiam algo que lhes prejudica tanto assim? Ou o discurso que os vitimiza em relação à greve é apenas uma artimanha de desqualificação do movimento e da consciência estudantil?

Desqualificar as mobilizações de trabalhadores e de estudantes, qualificando-as como produto de minorias e forças “estranhas” (partidos, sindicatos, intenções políticas oposicionistas) ao corpo social – universitário neste caso –, é aliás uma das estratégias recorrentes nos argumentos antigreve dos setores conservadores. Um recurso retórico em tudo congruente com a longa trajetória de desqualificação da população trabalhadora pelo discurso das classes dominantes, que no Brasil sempre apontaram as “ideologias alienígenas” (anarquistas, comunistas, sindicalistas, ou o que seja) como responsáveis pelas perturbações à ordem, através da “manipulação” de grupos tomados como “massas de manobra”, enquanto a maioria do “povo” – “ordeiro e pacífico” (claro!) – assistiu a tudo indiferente, quando não “bestializado”. Teriam tanta força nas Universidades Federais dois ou três partidos de oposição de esquerda ao governo, que juntos somaram cerca de 1% na última eleição, para manipularem segundo seus interesses políticos dezenas de milhares de docentes? São as(os) docentes universitárias(os) tão parvos assim? E as(os) estudantes também? Se o Sindicato Nacional é tão carente de representatividade, por que reúne um contingente tão significativo de associados em suas sessões sindicais? Porque assembleias supostamente “ilegítimas” reúnem cada uma centenas de professores(as), que trocam informações, avaliam a situação, discutem e se posicionam coletivamente? Por certo que o questionamento à legitimidade vem sempre acompanhado de tentativas de profecias auto-realizáveis: “não vou à assembleia porque ela é ilegítima e tem pouca participação” (e não indo, contribui-se para fazer menor a participação e assim arguir sua legitimidade). O que vem muitas vezes acompanhado de uma fala ainda mais autocentrada de questionamento dos espaços coletivos de deliberação, não por cercearem a palavra, mas por aprovarem posturas contrárias às do indivíduo que questiona: “Já fui muito, mas desisti, pois o espaço é antidemocrático, já que toda vez que falei contra a greve perdi as votações”.

Há argumentos mais falaciosos, como o de que as greves não geram resultado algum ou que esvaziam a Universidade dificultando o debate e a mobilização, ou ainda que docentes recebem seus salários quando fazem greve. Difícil tomá-los como simples fruto de diferentes visões políticas, pois falseiam a realidade. A história das greves docentes está sendo cada vez mais pesquisada e diversos trabalhos acadêmicos já fizeram o balanço e avaliaram a importância desses movimentos nas últimas três décadas. Um quadro sintético dos resultados das greves nas Instituições Federais pode ser consultado em http://www.sedufsm.org.br/index.php?secao=greve. As greves sempre potencializaram o debate – interno às Universidade e público – sobre as políticas para o ensino superior no país e parar a atividade universitária é o único meio de garantir mobilizações multitudinárias nas ruas. Que debate sobre o ensino superior estão fazendo os antigreve em suas aulas cotidianas? De que mobilizações em defesa da Universidade Pública estão participando enquanto dão suas aulas? Já quanto aos salários, não seria absurdo que o direito de greve fosse respeitado e os salários pagos, mas todos(as) se lembram de como em diversas greves que ultrapassaram um mês de duração os salários foram cortados (cuidado! O governo corta os salários de todo mundo, inclusive dos(as) que continuam dando aulas!), como na greve de 2001, em que dois meses foram sucessivamente cortados e só pagos depois que as mobilizações da greve arrancaram decisões judiciais favoráveis em meio a “guerras de liminares”.

Não é difícil entender as motivações dos(as) que se propõem a furar uma greve (fura-greves pode ser um “conceito nativo” com conotação negativa, como pelego, mas é compartilhado por todos os estudiosos dos fenômenos grevistas nas Ciências Humanas e Sociais, porque corresponde ao que expressa). Em alguns casos, acomodam-se a – e reproduzem – determinadas situações de poder; em outros estão por demais enredados em mecanismos de apropriação privada de recursos através da Universidade Pública (como cursos pagos e consultorias); algumas vezes apenas estão aferrados a defesa do governo de “seu” partido. Outras vezes, um pouco de tudo isso está presente.

Fazer a greve

As respostas mais significativas aos antigreve sempre foram construídas pelos próprios movimentos e seus resultados objetivos. Não se trata de docentes que não aprenderam com as lições do passado, mas de deliberada retomada de argumentos desgastados para marcar posição e construir a rede de reverberação interna às arengas conservadoras tradicionais dos governos e da mídia. No entanto, greves fortes e participativas, como esta está se desenhando desde o começo, atropelam sem maiores problemas tais tentativas de deslegitimação da luta coletiva.

Não há como prever os resultados finais da greve, mas desde já se podem perceber algumas conquistas significativas. Docentes e estudantes que ingressaram nos últimos tempos nas Universidades participam ativamente de um movimento coletivo e sentem-se parte de uma comunidade universitária que pode sim atuar unida em torno de pautas comuns. No reino do individualismo, da concorrência e do produtivismo, ouve-se um coro de vozes falando como uma só, fazendo ecoar cantos de solidariedade, dignidade, coletividade e consciência de classe.

Nessa toada – de uma greve apoiada pela maioria da categoria dada a justiça de suas reivindicações e que ganha do apoio à adesão dos estudantes pelo aspecto da defesa da Universidade Pública e da qualidade do ensino – estamos diante da construção de um movimento suficientemente forte para gerar repercussão pública, apoio social e, com essas condições, dobrar o governo e garantir ganhos efetivos. Transformar esse potencial em realidade é o que nos cabe a partir de agora.

Mapa da greve das Universidades Federais do País

Fonte: http://pcb.org.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=4090:mapa-da-greve&catid=67:greve

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Universidade em Movimento: Todo apoio a greve docente


A União da Juventude Comunista (UJC) apoia, e sua militância participa de forma ativa, da greve nacional dos docentes das IFES deflagrada pelo ANDES-SN. Apoiamos a pauta de reestruturação da carreira e melhores condições de trabalho e repudiamos a intransigência do governo, que se recusa a negociar de maneira efetiva o projeto de carreira apresentado pelo Andes há mais de um ano.
Também se mobilizam estudantes e técnico-administrativos, em apoio aos professores, sem perder de vista as suas pautas específicas. Isso ocorre como resultado das péssimas condições de trabalho e estudo, fruto da expansão universitária recentemente implementada (REUNI) e dos sucessivos cortes orçamentários na Educação realizados pelo governo Dilma.

Vemos a intensificação do trabalho docente, a precariedade das instalações universitária, salas de aula superlotadas, falta de laboratórios e de equipamentos, falta de programas efetivos de Assistência Estudantil e o aumento da lógica privada no interior das universidades.

Esses são os resultados do desenvolvimento capitalista em geral e da clara opção dos últimos governos por criar uma economia de mercado capitalista e monopolista integrada internacionalmente. O que resulta em um conjunto de medidas que visam transformar a universidade de acordo com as demandas do mercado.

Por isso, para os burocratas do governo serviçais do capital, a universidade deve ser pensada como empresa que forma a força de trabalho, presta serviços e disputa o mercado. Para tanto, deve ser eficaz na administração dos recursos escassos de que dispõe, buscando complementá-los com parcerias público-privadas, projetos, cursos pagos, financiamentos alternativos e venda de serviços.

A pauta de reivindicações docente supera o terreno meramente salarial, pois coloca a disputa política em torno da defesa radical do caráter público da universidade.

Para a União da Juventude Comunista a greve é um marco por uma nova correlação de forças na universidade brasileira. Defendemos a unidade de todos os setores em  luta dentro e fora da universidade, para resistirmos ao processo de mercantilização da educação pública e avançarmos na construção da Universidade Popular, com acesso universal e que expresse as necessidades da classe trabalhadora brasileira. A militância da UJC não medirá esforços nesse sentido.

Temos a certeza que na atual conjuntura a defesa radical do caráter público, gratuito, democrático, laico e de qualidade da universidade é extremamente necessário, embora insuficiente, para a produção e socialização do conhecimento contra e para além da ordem do capital. Por isso, a luta por uma Universidade Popular se torna um projeto elementar para a resolução dos problemas educacionais sob a perspectiva dos trabalhadores.

Todo apoio à Greve Nacional dos Professores do Ensino Público Federal!
Todo apoio às greves estudantis e dos técnicos administrativos nas universidades!
Em defesa da Universidade Pública!
Por uma Universidade Popular!
Em defesa da Carreira Docente apresentada pelo ANDES-SN!
Por melhores condições de trabalho e estudo!

Maio de 2012,
Coordenação Nacional da União da Juventude Comunista

sábado, 26 de maio de 2012

OIT: juventude e desemprego


Nesta terça, o Olhar Comunista destaca relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que afirma: o índice de jovens desempregados no mundo deve ficar na faixa de 12,7% até 2016.


Para a OIT, a tendência de falta de emprego elevada entre os jovens (15 a 24 anos) ocorre porque "todas as regiões enfrentam desafios no setor de emprego". O índice mais recente, de 2011, cravava 12,6% (74,5 milhões de pessoas).
Segundo a OIT, a crise econômica pôs fim à tendência de declínio de desemprego entre os jovens que vinha se verificando entre 2002 e 2007 - desde lá, o número de jovens sem emprego aumentou em mais de 4 milhões em todo o mundo.
O maior aumento ocorreu no Oriente Médio e no Norte da África. Em 2010, havia cerca de 25,4% de jovens desempregados no Oriente Médio e 23,1% no Norte da África. A perspectiva é de que o índice alcance entre 27 e 29 milhões de jovens nessas duas regiões. Na América Latina e no Caribe, o número de jovens sem trabalho aumentou no auge da crise - de 13,7% em 2008 para 15,6% em 2009 -, mas sofre ligeira queda nos últimos anos.
A população de adultos desempregados em todo o mundo em 2011 foi de 121,5 milhões. A projeção para 2012 é de que a cifra alcance 127,9 milhões de pessoas.
Apenas com a organização dos trabalhadores será possível vencer essa ignomínia. E aos jovens fica a lição: para haver futuro, o presente deve ser de luta.

CUT cumprirá o papel de algoz


O Olhar Comunista desta quinta destaca matéria publicada em O Globo: "Para evitar o desgaste político de enviar ao Congresso um projeto que flexibiliza a legislação trabalhista, cujo texto está pronto na Casa Civil, o governo orientou a CUT a convencer um grupo de líderes dos partidos a assumir a paternidade da proposta".


A principal mudança na proposta, que faz o governo querer "terceirizar" o serviço, é permitir que sindicatos de trabalhadores e empresas negociem a aplicação dos direitos trabalhistas, como a divisão dos 30 dias de férias em três períodos, a redução do intervalo de uma hora de almoço e da licença-maternidade, com "compensações".
Os capachos do sindicalismo amrelo, governista, oficial ou qualquer adjetivo de baixo calão que se queira dar toparam fazer o serviço sujo. De acordo com a matéria, o acordo foi "costurado entre representantes da CUT, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, e a Presidência da República".
Para que ninguém se espante ou veja nessas linhas alguma provocação sem fundamentos, acontecerá o seguinte: a CUT, via Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, vai encaminhar o projeto à Câmara, por meio de um parlamentar ou líder. Falta agora achar um parlamentar para que o enredo se complete. Não faltam opções dentro da camarilha em que se transformou o PT...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Uma greve em defesa da Universidade Pública: pela carreira docente, por salários e por melhores condições de trabalho


(Nota Política do PCB)

O Partido Comunista Brasileiro apóia, de forma militante, a Greve Nacional dos docentes das IFES deflagrada pelo ANDES-SN desde o dia 17 de maio. A greve, que hoje conta com a adesão de mais de 42 Universidades, é produto direto da intransigência do governo Dilma, que se recusa a negociar de maneira séria e responsável o projeto de carreira apresentado pelo Andes há mais de um ano.

O governo, mesmo tendo apresentado, diante da pressão exercida pelos professores, uma proposta de acordo emergencial no qual se comprometia a pagar uma recomposição, ainda que insuficiente e parcial, de 4% nos salários a partir de março de 2012, incorporando parte das gratificações ao vencimento básico (a GEMAS e a GEDBT), só cumprida em maio de 2012, com muitos meses de atraso, não cumpriu o compromisso de criar um grupo de trabalho para, finalmente, começar a discussão da carreira docente e buscar a equiparação com os docentes das universidades dos profissionais com nível de formação equivalente que atuam no Ministério de Ciência e Tecnologia.

As condições de trabalho oferecidas aos professores são, em geral, ruins, e vêm se agravando, entre outras razões, pela expansão universitária implementada recentemente, que, não tendo sido acompanhada dos recursos necessários, causa a intensificação do trabalho docente, a precariedade das instalações, salas superlotadas, falta de laboratórios e de equipamentos, e deficiências sérias na assistência estudantil, entre outras distorções.

Para nós, comunistas, a situação das Universidades é resultado das características do desenvolvimento capitalista em geral, da formação social brasileira e da clara opção dos últimos governos de criar uma economia de mercado capitalista e monopolista, integrada internacionalmente, que exige o sacrifício no altar do capital das políticas públicas e sociais em uma verdadeira contra-reforma do Estado, o que exige uma adequação da forma de universidade que vinha sendo construída na resistência à ditadura empresarial - militar implantada em 1964 e que culmina no artigo 207 da Constituição Federal que consagra a autonomia universitária (financeira, de gestão e acadêmica) e a indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão.

Para os burocratas do governo, serviçais eficientes dos interesses do capital, a Universidade deve ser pensada como uma empresa que forma mão-de-obra, presta serviços e disputa o mercado e, para tanto, deve ser eficaz na administração dos recursos escassos de que dispõe, buscando complementá-los com parcerias público-privadas, projetos, financiamentos alternativos e venda de serviços. A melhor prova disso é que as negociações sobre a carreira se deram, principalmente, com o Ministério do Planejamento e não com o MEC, solenemente ausente e omisso em todo o processo até aqui desenvolvido.

O resultado de todo esse quadro é a descaracterização e degradação da Universidade Pública, o que incide sobre as condições de trabalho e de remuneração dos profissionais do ensino publico federal.

O PCB, por seu Comitê Central e seus professores universitários, engajados diretamente na construção dessa greve nacional, declara integral e ativo apoio ao movimento dos professores em defesa da Universidade Pública de qualidade, pela carreira docente apresentada pelo ANDES-SN, pela defesa dos salários dos professores federais do ensino superior e do ensino básico, técnico e tecnológico.

Ressaltamos que a luta por uma Universidade Pública gratuita e de qualidade é condição necessária, ainda que insuficiente, para a produção e socialização do conhecimento contra e para além da ordem do capital. Por isso seguimos em nosso firme propósito de lutar por uma Universidade Popular, de acesso universal, que expresse as demandas e os valores da  classe trabalhadora brasileira.

Todo apoio à Greve Nacional dos Professores do Ensino Público Federal

Em defesa da Universidade Pública

Por uma Universidade Popular

Pela imediata abertura de negociações

Em defesa da Carreira Docente apresentada pelo ANDES-SN

Por melhores condições de trabalho
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)

Comissão Política Nacional

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Movimento LGBT critica paralisia do governo



Mobilizações do Dia Internacional de Combate à Homofobia levam à Brasília críticas ao governo por ceder as pressões de setores fundamentalistas. Principal reivindicação é a aprovação do PLC 122. “Reivindicamos a criminalização da homofobia, o PLC 122 e leis que garantam que a gente não seja mais discriminado no Brasil. A gente tem tido um ano muito ruim junto ao Palácio do Planalto", disse Victor De Wolf, secretário geral da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

Brasília - As reinvidicações do movimento de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT) ganharam visibilidade em Brasília (DF) na semana do Dia Internacional de Combate à Homofobia, dia 17 de maio. A Câmara dos Deputados sediou o 9° Seminário LGBT e o Senado uma audiência pública sobre o Projeto de Lei da Câmara (PLC) 122 que criminaliza a homofobia, ambos realizados na terça-feira (15). Nesta quarta-feira (16), foi a vez da III Marcha Nacional contra a homofobia, com o lema “Homofobia tem cura: Educação e criminalização”, ocupar a Esplanda dos Ministérios.

“Reivindicamos a criminalização da homofobia, o PLC 122 e leis que garantam que a gente não seja mais discriminado no Brasil. A gente tem tido um ano muito ruim junto ao Palácio do Planalto. Nos outros anos do governo Lula tivemos vários avanços, como o Brasil sem Homofobia, o Conselho Nacional LGBT e no atual governo temos retrocessos”, explicou Victor De Wolf, secretário geral da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), organizadora da marcha.

De acordo com o militante da causa LGBT, o governo de Dilma Roussef cedeu a setores “fundamentalistas, do não-Estado laico” e paralisou todas as políticas que atendiam o movimento, inclusive aquelas previstas pelo Plano de Combate à Homofobia. De Wolf cita a suspensão do kit contra a homofobia, do Ministério da Educação, como um símbolo desse giro do governo.

Outro exemplo citado foi a retirada de uma campanha de prevenção à Aids. “O ministério [da Saúde] tem uma avaliação de que a Aids está crescendo no público jovem gay e lançou uma campanha,mas foi obrigado a retirar por ordens presidenciais. Tirando as políticas financiadas diretamente por organizações internacionais, que não tem como parar, o resto está tudo parado. Temos tido um problema sério, em especial, dentro do Palácio do Planalto”, criticou.

O movimento LGBT também reclama uma reunião com a presidenta. Desde o início de seu mandato, apenas a Secretaria Geral da Presidência da República
os recebeu.

PLC 122
Já aprovado pela Câmara dos Deputados, o projeto de lei que criminaliza a homofobia está parado na Comissão de Direitos Humanos do Senado há mais de um ano e quase foi arquivado. A senadora Marta Suplicy (PT-SP) retomou o PLC 122 no início de seu mandato, mas as pressões políticas já mencionadas por Victor de Wolf continuam emperrando seu avanço.

“Lutarmos para dar um basta a estes discursos homofóbicos e a estes crimes que estão aí, porque está uma verdadeira matança contra a população LGBT. E nossa pauta principal no momento é a criminalização da homofobia, a aprovação do PLC 122”, disse Graça Cabral, do movimento Mães pela Igualdade, que agrega mães de vários estados do país em defesa dos direitos iguais para seus filhos e filhas homossexuais. O movimento nasceu a partir do discurso homofóbico do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que afirmou preferir ter um filho morto a ter um filho gay.

De acordo com o Grupo Gay da Bahia (CGB), foram documentados 266 assassinatos de gays, travestis e lésbicas no Brasil em 2011, sendo 162 gays (60%), 98 travestis (37%) e 7 lésbicas (3%). Os números de 2011 representam um aumento de 118% em comparação a 2007, quando foram registrados 122 assassinatos.

Dia 17 de maio
Esta data entrou para o calendário de lutas do movimento LGBT como o Dia Internacional do Combate à Homofobia porque em 17 de maio de 1990, a assembléia geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a retirada do código 302.0 (Homossexualidade) da Classificação Internacional de Doenças, declarando que “a homossexualidade não constitui doença, nem distúrbio e nem perversão”. A entidade considerava a homossexualidade como um transtorno mental desde 1948.


Fotos: Marcello Casal Jr./ABr 



Matéria publicada em: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20159

EUA instalam novas bases militares na América do Sul


Bases estão sendo inauguradas na Argentina e no Chile
15/05/2012
Indira Carpio Olivo e Ernesto J. Navarro


Em 24 de março de 2012, a página web aporrea.org , publicou uma nota de 4 dias antes, de matrizur.org , na qual afirma que o governador da Província de El Chaco, outorgava permissão para a instalação de uma base militar do Comando Sul nesse território argentino.
Diz o texto: “O edifício, que será inaugurado este mês, está localizado no prédio do aeroporto de Resistência – capital da Província do norte do Chaco – e encontra-se em sua etapa final de construção, será assim, o primeiro centro de operações na Argentina. Só falta equipá-lo com tecnologia de informática e ceder o lugar para, em seguida, concluir com uma capacitação de pessoal”, disse o comandante estadunidense Edwin Passmore, do Comando Sul, que reuniu-se semanas antes com o governador Jorge Capitanich”.
Dias mais tarde, em 05 de abril, o Chile de Sebastián Piñera abria as portas a esse mesmo Comando Sul.
Um complexo militar, localizado no Forte Aguayo da comunidade de Concón, região de Valparaíso, a uns 130 quilômetros a noroeste da capital Santiago, foi inaugurado com honras.
Frente aos protestos, quem aparece é o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Leon Panetta, afirmando que não é uma base militar operada por seu país, mas sim uma base chilena para treinamento de forças de paz das Nações Unidas.
Atualmente o Comando Sul opera bases militares no Paraguai, El Salvador, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Panamá, Colômbia e Peru.
Em entrevista ao programa de rádio La Brújula del Sur, Walter Goobar, escritor editor do semanário dominical Miradas al Sur e colunista do diário Tiempo Argentino, comentou que o Governo dos Estados Unidos já não chama “bases militares” a essas instalações financiadas pelo Comando Sul, agora em seu novo discurso são denominadas: Deslocamento Cooperativo de Segurança, CSL (iniciais em inglês) ou Deslocamento Adiantado Operativo, FOL.
“O Comando Sul está tentando penetrar em diferentes países com programas que não sejam militares (ajudas para catástrofes, emergências, etc) com os quais se pode evitar as autorizações dos congressos, ou das autoridades nacionais”, afirma Goobar.
Apesar de o Governador da Província de El Chaco, Jorge Capitanich, negar rotundamente que a instalação cedida ao exército dos EUA seja uma base militar Goobar assinala: “Para mim é óbvio que se trata de instalações militares, financiadas pelo Comando Sul. Quem aparece da parte dos EUA, assinando acordos com o governador do Chaco, é o comandante Edwin Passmore um homem conhecido na Venezuela já que foi expulso por realizar atividades de espionagem, é um homem da inteligência estadunidense”.

Controle da Tríplice Fronteira
O escritor e analista argentino assegura que a província de El Chaco é altamente transcendental por várias razões, “neste caso específico (uma base) se permite ao Comando Sul o controle de uma zona estratégica que é para onde convergem as fronteiras da Argentina, Brasil e Paraguai e por onde corre o famoso Aqüífero Guarani”.
Ao perder a dianteira política na América do Sul, os Estados Unidos tem uma necessidade de controle do tipo territorial, Goobar agrega que “a instalação de bases em El Chaco e no Chile, permitirá também recrutar forças locais para tê-las sob suas ordens e em sua folha de pagamento”.
Consultado sobre as razões do governador de El Chaco para outorgar a permissão, Walter Goobar nos disse: “Pessoalmente creio que o governador Capitanich está tratando de conduzir uma espécie de política exterior por conta própria. Está contradizendo os postulados básicos da política exterior de Néstor e Cristina Kirchnner”.

Cercados?
Em seus artigos, Goobar analisa o deslocamento militar do Comando Sul e considera que “sim há razões para preocupar-se. Este deslocamento militar anda de mãos dadas ou no mesmo passo que o deslocamento da Grã-Bretanha no Atlântico Sul, nas ilhas Malvinas, com naves de tipo nuclear”.
“Parte deste deslocamento tem a ver com o Pentágono prevendo algum tipo de crise nos países da Alba e também com um eventual ataque por parte de Israel e/ou Estados Unidos contra o Irã e a necessidade de ter sob controle seu próprio pátio traseiro”.

Desembarque militar
A base oferecida ao Comando Sul na Argentina pelo governador de El Chaco sob o eufemismo de “base de ajuda a emergências” está localizada no aeroporto principal da região.
A razão? Walter Goobar explica: “Neste momento, a principal arma dos Estados Unidos são 7.500 aviões não tripulados chamados drones, e para operar estes aviões não é necessário o desembarque de fuzileiros, o único deslocamento militar necessário é um joystick, 14 telas de computador e um piloto que seja capaz de voar 3 drones ao mesmo tempo”.

Passmore
O Coronel cumpriu “tarefas humanitárias” na invasão ao Afeganistão comandando suas tropas. Além disso, foi assessor de Inteligência do ministro da Defesa do Kuwait durante a invasão do Iraque.
Desde 2005 serviu como adido militar na embaixada dos Estados Unidos na Venezuela, país do qual foi expulso por atividades de espionagem no ano de 2008.
Em fevereiro de 2011, Edwin Passmore foi protagonista da introdução das valises diplomáticas “secretas” que continham aparatos para comunicações secretas, codificação e interceptação de comunicações, equipamentos de posicionamento global (GPS), pacotes de software (suporte lógico) e uma grande lista de substâncias narcóticas e psicotrópicas.”

Matéria Originalmente publicada em: http://www.brasildefato.com.br/node/9569

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Comerciários jogados à própria sorte


Trabalhadores realizam jornada média de 53 horas semanais e sofrem com a precarização das condições de trabalho
10/05/2012

Michelle Amaral,
da Reportagem

Em supermercados e shoppings, trabalhadores trabalham
até mais do que 60 horas - Foto: Wilson Dias/ ABr
Em datas comemorativas, como o Dia das Mães, a sobrecarga de trabalho dos comerciários aumenta. Apesar de haver uma elevação nas contratações temporárias para o comércio, o quadro de funcionários formado pelas lojas ainda não é suficiente para suprir a demanda de procura dos clientes. “O excesso de jornada duplica nesses dias. Já demos autuações Brasil afora em que se constatou mais do que 70 horas de trabalho semanal”, revela o presidente da Confederação Nacional de Trabalhadores do Comércio (CNTC), Levi Fernandes Pinto.

Na ânsia por garantir a clientela e obter mais lucros, as empresas repassam aos funcionários o ônus da extensão do período de funcionamento. De acordo com pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese), os comerciários trabalham em média 53 horas semanais, enquanto a jornada oficial de trabalho é de 44 horas.

Pereira, vendedor de uma loja de materiais de construção e decoração, que trabalha há 23 anos como comerciário, lembra que na época em que iniciou na profissão as condições de trabalho eram melhores, porque não se trabalhava aos domingos nem aos feriados, e nos sábados as lojas funcionavam até as 13 horas apenas. “Com o passar do tempo, a demanda acabou obrigando as lojas a atenderem em um horário diferenciado. Antes fechava cedo, agora às 22h. No domingo não abria, agora abre. E a carga de trabalho foi só aumentando”, relata.

Ainda, segundo o presidente da CNTC, Levi Fernandes Pinto, em alguns segmentos do comércio trabalhadores acabam excedendo 60 horas semanais de trabalho. “Os comerciários de supermercados e os de shoppings são os mais penalizados. Estes, com certeza, chegam a 60 ou até um pouco mais do que 60 horas, porque é muito comum trabalharem de segunda a domingo”, afirma.

Jairo, que trabalhou em uma loja de calçados de um shopping da zona sul de São Paulo, conta que a extensão do horário de trabalho além da jornada contratual é comum. “Nos dias de semana o horário de entrada era às 16h, mas a gente tinha que entrar 15h30 para arrumar o estoque. Quando a loja não tinha batido a cota, a gente trabalhava além do horário. Se ficasse uma, duas horas a mais e não vendesse, não ganhava nada”, relata.

Banco de horas

Os trabalhadores das lojas de calçados, que são remunerados através de comissões sobre as vendas, não são os únicos que não recebem pelas horas trabalhadas a mais. Segundo Josimar Andrade de Assis, diretor de Relações Sindicais do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, a maioria das empresas do comércio trabalham com a política de banco de horas, ou seja, ao invés de pagar um valor a mais pelo período extra trabalhado, a empresa acumula essas horas para, em data posterior, o funcionário tirar folga. No entanto, Assis destaca que nem sempre os trabalhadores conseguem tirar as folgas devidas. “As empresas acabam não respeitando o banco de horas, às vezes essas horas somem ou são descontadas”, denuncia.

Além disso, conforme o diretor sindical, a escala de folgas é determinada pela empresa segundo suas necessidades, e não as do trabalhador, contrariando o que estabelecem as convenções coletivas da categoria. “A vantagem tem que ser sempre do funcionário, essa é a primeira condição [para utilização da política de banco de horas]”, explica.

O banco de horas também não pode exceder duas horas além da jornada de trabalho de oito horas diárias. Assim como domingos e feriados não podem ser computados, pois têm regras específicas que definem o pagamento de horas extras. A empresa deve, ainda, disponibilizar ao funcionário uma planilha com os créditos que possui, para que ele acompanhe as horas a mais e possa se programar para tirar folga. “Se a empresa quiser usar essa política do banco de horas tem que seguir à risca essas indicações. Mas temos dados que indicam que a maioria das empresas não cumpre na íntegra”, afirma Assis.

Para o secretário-geral do Sindicato dos Comerciários de Osasco e Região (Secor), Luciano Pereira Leite, a política de banco de horas é prejudicial ao trabalhador, porque flexibiliza a jornada de trabalho. Além disso, Leite afirma que o banco de horas atende apenas ao interesse das empresas, que não querem pagar pelas horas extras e seus reflexos sobre os demais direitos dos trabalhadores.“Para nós, o ideal seria não ter o banco de horas e que o trabalhador também não executasse horas extras, para que se possa gerar mais empregos”, defende o sindicalista, que lembra que tal pensamento faz parte da campanha das centrais sindicais pela redução da jornada de trabalho para a geração de mais postos de trabalho.

Além da utilização do banco de horas, o diretor do Sindicato dos Comerciários de São Paulo diz, ainda, que tem conhecimento de empresas que, após o funcionário cumprir a jornada de oito horas, o obriga a registrar o horário de saída contratual no cartão de ponto e continuar trabalhando. “Dá baixa no cartão de ponto, mas permanece no local, continua vendendo, continua atendendo clientes. E essas horas de trabalho não são computadas como hora extra, nem como banco de horas”, descreve.

Segundo Assis, quando o sindicato toma conhecimento de situações como esta, faz denúncia junto ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). O presidente da CNTC, no entanto, reclama da dificuldade de levar a fiscalização do Ministério do Trabalho a essas empresas para proceder com a autuação. “Infelizmente, o Ministério do Trabalho está sucateado, principalmente nessa área de disposição dos auditores fiscais do trabalho. Chegamos ao absurdo de, em uma capital, ter cinco auditores fiscais para atender 300, 400 mil comerciários”, protesta.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait), atuam hoje no país em torno de 3 mil auditores fiscais do trabalho, conforme a última atualização da coordenação-geral de recursos humanos do MTE, divulgada no início de março. Fernandes Pinto, contudo, lembra os auditores têm que atender não somente os comerciários, mas todas as outras categorias, o que torna o efetivo insuficiente.

Leite afirma que os comerciários estão “jogados à própria sorte” diante das irregularidades impostas pelas empresas e pela falta de atuação dos órgãos públicos que deveriam fiscalizar as condições de trabalho. “Não tem nenhum tipo de fiscalização e o sindicato não tem o poder de punir”, lamenta.
Funcionários trabalham sábados, domingos e
feriados até as 22h - Foto: Marcelo Cassal/Abr

Precarização

Mas não é somente com a extensa jornada de trabalho que os comerciários sofrem. De acordo com levantamento do Dieese, “no comércio há um grande descompasso entre os ganhos verificados no setor – crescimento este acima do PIB – e o repasse para a melhoria das condições de trabalho da categoria”. Os trabalhadores do comércio padecem com baixa remuneração, instabilidade profissional e falta de registro profissional.

Outra dificuldade apontada pelos comerciários é o trabalho aos domingos. “Você pode perguntar para o shopping inteiro, ninguém gosta de trabalhar no domingo, porque é o único dia de folga que a gente tem para ficar com a família”, afirma o comerciário Jairo. O vendedor de lojas de calçados ainda reclama da falta de pessoal nas lojas. “Quando eles dão folga para um vendedor, tem que sacrificar o outro, fazendo com que ele dobre o horário de trabalho”, afirma.

O presidente da CNTC conta que, em diversas situações, flagrou a sobrecarga de trabalho de comerciários justamente pela falta de pessoal. “Chegamos ao absurdo, inclusive, de constatar caixas de supermercado em Belo Horizonte que tem que usar fraldão, porque não podem nem sair para ir ao banheiro”, relata Fernandes Pinto.

Já em Osasco (SP), Leite conta que trabalhadores do hipermercado Carrefour, para poderem ir ao banheiro, têm que entrar em uma fila de espera. “O Carrefour faz o controle híbrido dos trabalhadores. As pausas para ir ao toalete têm que ser agendadas”, afirma. Segundo o secretário-geral do Secor, tal conduta impõe aos trabalhadores o controle híbrido: como as idas ao banheiro são limitadas, o trabalhador deixa de beber água. “Isso acaba gerando problemas de bexiga, de rim, de útero, etc. É uma situação que traz vários problemas de saúde para o trabalhador, principalmente para as mulheres”, ressalta.

Falta regulamentação

Segundo Fernandes Pinto, os problemas enfrentados pelos comerciários, principalmente com a extensão da jornada de trabalho, poderiam ser solucionados com a regulamentação da profissão. “Nós entendemos que com a regulamentação isso vai mudar, porque o comércio passará a ter que cumprir a jornada de 44 horas semanais, que só poderá ser mudada mediante convenção coletiva”, afirma.

Apesar de ser uma das profissões mais antigas, o trabalho no comércio ainda não possui uma legislação específica. Desde 2007 tramita no Congresso o Projeto de Lei do Senado 115, de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS), que visa legalizar a profissão de comerciário.
“Aqui no Congresso, é difícil aprovar um projeto quando há divergência entre trabalhador e empregador, mas nesse projeto houve um grande entendimento entre os empregados e os empregadores”, afirma o senador, que acredita que o projeto seja aprovado ainda no primeiro semestre deste ano.

Para o comerciário Pereira, entretanto, a regulamentação da profissão não trará melhorias para o trabalhador. “Vai ser mais um reconhecimento da profissão de comerciário. Mas benefício para o comerciário, acho que não vai ter muito não, porque o sindicato patronal é muito forte”, analisa. Na opinião de Pereira o poder do sindicato patronal é maior do que o dos comerciários, por isso demorou-se tanto para conseguir o acordo para regulamentar a profissão. O comerciário acredita que, mesmo com a aprovação do projeto, o poder das empresas vai continuar sendo forte. “A maioria das empresas é multinacional hoje, o poder delas é muito grande, até mesmo dentro da Câmara e do Senado”, diz.

O presidente da CNTC, por sua vez, pondera que o fato de a profissão ser regulamentada poderá não impedir que empresários continuem impondo as condições precárias de trabalho a seus funcionários, “mas vai servir como um instrumento a mais para o trabalhador poder reivindicar [seus direitos] judicialmente”, afirma.

Matéria originalmente publicada em: http://www.brasildefato.com.br/node/9537



Walmart: a maçã podre

Adital - Em 21 de abril de 2012, o New York Times (NYT) publicou uma reportagem mostrando que Walmart pagou 24 milhões de dólares em subornos para construir lojas e dominar o mercado no México. Altos executivos da Walmart conheciam os casos desde 2005 e o ocultaram. Ao contrário, fraguaram uma investigação contra o denunciante, um ex-executivo de Walmert, que pediu demissão por sentir-se discriminado, apesar de que havia sido um dos encarregados do pagamento dos subornos. Por Silvia Ribeiro, pesquisadora do Grupo ETC






Eduardo Castro-Wright, executivo identificado pelo diário como a força motriz dos subornos, foi promovido à vice-presidência de Walmart México e, em seguida, a chefe de todas as lojas dos Estados Unidos, por ter feito do México "uma das unidades mais lucrativas".

Ante a má publicidade, os executivos da empresa afirmam que agora vão investigar. Tudo indica que a denúncia do NYT representa uma mínima parte do negócio da corrupção de Walmart, outras grandes empresas e funcionários. O dinheiro mencionado parece que mudou de bolso para uma transnacional que faturou 421.849 bilhões de dólares em 2011.

Walmart é a maior empresa do mundo há mais de uma década, superando petroleiras e bancos na cúpula do poder econômico mundial. Tem quase o dobro das vendas globais do que seu competidor mais próximo, a cadeia Carrefour.

Em 2009, o negócio de vendas de alimentos e miscelâneas superou, por primeira vez, ao poderoso mercado global da energia, passando a ser o maior mercado do mundo. (Dados em "¿Quién controlará la economía verde?" - www.etcgroup.org/es). Não é um produto qualquer. É um mercado que mantém cativa toda a população global que não produz alimentos, porque ninguém pode viver sem comer. A competição para controlar esse imenso mercado é feroz e, como vemos, não tem escrúpulos.

Devido à sua atual posição, Walmart controla e exerce uma influência brutal sobre grandes setores da produção, do consumo e da política. Pratica uma notória política antissindical, que começou desde que seu fundador, Sam Walton, anunciou que a base de seu negócio seria pagar salários baixos e não pagar benefícios sociais. É o maior empregador privado dos Estados Unidos e do México e conseguiu baixar significativamente os salários médios de toda a indústria. Mais de 60% de seus trabalhadores nos Estados Unidos não têm cobertura médica e a cifra é maior nos países do Sul.

Em poucas décadas, acumulou um histórico impressionante de demandas judiciais que vão desde não permitir a sindicalização de empregados a muitas outras razões, cobrindo quase todo o espectro imaginável de infrações trabalhistas: demissões sem justa causa; discriminação de deficientes; discriminações por questões de gênero; trabalho infantil; falta de cobertura em saúde; não pagamento de horas extras; emprego de trabalhadores sem documentos; agressão contra vendedores Dora de seus locais de trabalho e outras.

Nos Estados Unidos tem sido objeto de 40 "ações de classe" em diversos Estados, principalmente por discriminação de gênero, implicando a milhões de mulheres. No México, está em primeiro lugar em demandas trabalhistas no Distrito Federal (Laura Gómez, La Jornada, 3/5/12).

Walmart do México (Walmart, Sam's Club, Bodegas Aurrera, Superama, Suburbia, Vips, El Portón y Ragazzi) controla mais da metade do mercado de vendas a varejo no país, superando a todas as outras cadeias juntas. Tem uma agressiva política para eliminar competidores em cidades e povoados menores, onde se estabelece muitas vezes sob o protesto da comunidade. Começa oferecendo preços mais baixos e quando os comércios locais fecham, aumenta consideravelmente os preços, acima do nível médio. Segundo Walmart Watch, organização de atingidos pelo gigante nos Estados Unidos, para cada dois empregos que gera em uma comunidade, são perdidos três.

A entrada do gigante nos contratos agrícolas com pequenos produtores significou a ruína de muitos camponeses da América Central que, seduzidos pela suposta "oportunidade", foram à falência em pouco tempo devido às demandas de uniformidade, quantidade, prazos, embalagens e o controle imposto pelas certificadoras internacionais, ficando com grandes dívidas devido aos investimentos que tiveram que fazer para poder entrar no jogo.

Os baixos preços de Walmart devem-se também à utilização sistemática de montadoras em condições de exploração extrema. Uma trabalhadora de uma montadora em Bangladesh disse ao jornal Los Ángeles Times, em 2003, que seu horário de trabalho normal era das 8 da manhã até as 3 da madrugada, para sobreviver com o nível de pagamentos fixados por Walmart. O gerente dessa montadora queixou-se de que "deviam melhorar porque Walmart conseguia melhores resultados na China" do que em Bangladesh.

De fato, agora, 80% dos produtos de Walmart são produzidos na China, em péssimas condições de trabalho, às custas da qualidade e em vários casos demonstrados, usando produtos tóxicos, por ser mais baratos. De todas as exportações chinesas, 12% vão para as prateleiras de Walmart.

Walmart é um caso extremo de impacto contra trabalhadores, consumidores, comunidades; contra a saúde e o meio ambiente. Porém, não é uma exceção; é a norma do sistema industrial globalizado, particularmente no setor de alimentos. No extremo da mesma cadeia, com um histórico semelhante, estão a Monsanto, a Syngenta e outras. Por sorte, a maior parte dos alimentos é produzida fora dessas cadeias, por camponeses, pastores, pescadores artesanais e em hortas urbanas.

Apoiar essa produção e consumir produtos locais e sem químicos é fundamental para minar a esses gigantes que querem controlar nossa comida, nossa saúde, nossos trabalhos, nossas comunidades, nossa vida.
Adendo

No Chile, Wlamart não opera com seu nome, mas através da cadeia de supermercados Líder, que adquiriu há uns dois anos, proibindo, de imediato, a venda de produtos procedentes de Cuba, da Venezuela e de outros países "inimigos". Na Venezuela, funcionam os supermercados Líder.